DOR PÉLVICA NA GRAVIDEZ

GRAVIDEZ RELACIONADA COM A DOR PÉLVICA

 

“Dor na pelve” é muito conhecida entre as mulheres durante a gestação. O termo foi definido como um sintoma geral de dor persistente localizada na pelve, com duração de vários meses. Há muitos estudos dedicados à este tema durante as duas últimas décadas. O resultado das pesquisas é muito interessante:

 

- Metade de todas as mulheres grávidas sofre de dor na pelve;

- Em algumas mulheres gestantes a dor na pelve leva à incapacidade grave;

- Os intervalos de taxas de prevalência é de 4% à 90%, com mediana de 50%;

- Quase 10-75% das mulheres tem dor que persiste por 1-3 meses após o parto;

- As mulheres têm dificuldade para andar e são, frequentemente, incapazes de percorrer grandes distâncias;

- As atividades com maiores dificuldades foram: atividades domésticas relacionadas com as crianças, trabalho, lazer / passatempos, exercícios, e relações pessoais ou vida conjugal.

- A dor pélvica é um forte fator de risco, não só no que diz respeito à ocorrência de dor, mas também no que diz respeito à intensidade da dor e a duração de dor em uma gravidez futura.

- A multiparidade é um fator de risco moderadamente importante para ter dor na pelve, mas é um fator importante na determinação da duração do período de dor e é relacionada com a intensidade da dor no final da gravidez.

 

A mais antiga explicação de dor pélvica veio de Hipócrates (460-377 aC). Sua teoria era que um relaxamento irreversível e alargamento da pelve ocorrem com a primeira gravidez e que resulta em instabilidade das articulações sacroilíacas e que, por sua vez, levam à inflamação sintomática.

 

A dor na pelve ocorre, geralmente, durante a gravidez ou nas primeiras três semanas após o parto, e mostrou-se mais elevada na segunda e posteriores gestações.

 

E por que tantas mulheres sofrem com a dor na região da pelve?

 

- A maioria das hipóteses baseiam-se na carga alterada, resultante do aumento de peso e diminuição da estabilidade da cintura pélvica devido a alterações hormonais durante a gestação;

 

- O relaxamento da articulação pélvica causa insuficiência pélvica durante a gravidez e após o parto.

 

- Outros estudos ainda apontam que gestantes com dor pélvica tem movimentos aumentados nas articulações pélvicas, o que resulta em consequências negativas com diminuição na eficiência da transmissão de carga e o aumento da forças através das articulações. Existe a possibilidade de que essas forças de cisalhamento aumentadas são responsáveis ​​pela dor em mulheres grávidas com dor na cintura pélvica.

 

PREVENÇÃO E TRATAMENTO

 

A dor na pelve nas mulheres gestantes está diretamente relacionada com instabilidade capsulo-ligamentar e muscular tanto na região da pelve quanto na coluna lombar. O termo instabilidade segmentar é a perda da capacidade da coluna vertebral para manter seu padrão de deslocamento sob cargas fisiológicas normais.

 

Os músculos que estabilizam o corpo foram categorizados como local e global. O transverso abdominal (TA), multífidus, assoalho pélvico e diafragma são músculos locais, ao passo que os eretores da coluna, quadrado lombar (fibras laterais), oblíquos e reto abdominal são músculos globais. É preciso que os dois tipos de estabilizadores estejam funcionando corretamente.

 

Os pequenos músculos profundos, chamados de “estabilizadores locais” são os principais responsáveis por manter a integridade e a funcionalidade de todo complexo articular do quadril e coluna vertebral. Eles controlam e mantém a curvatura da coluna vertebral, são responsáveis pela propriocepção, se contraem de 30 a 110 milissegundos antes dos movimentos periféricos (recrutamento preparatório), e são trabalhados com cargas baixas de menos de 25% de uma contração máxima. Geralmente, quando existe uma disfunção articular eles ficam inibidos.

Os estabilizadores globais são mobilizadores provocando grande torque e grandes amplitudes de movimentos, portanto, controlam a orientação geral da coluna vertebral. Geralmente, quando existe uma disfunção articular eles ficam hiperativos e encurtados.

 

Quando existe dor também existe associado uma disfunção. Para um tratamento eficaz, é necessário duas intervenções principais: liberação da articulação e reabilitação muscular e proprioceptiva.

Existem técnicas específicas para liberar os tecidos e as articulações, podendo, desta forma, restaurar pequenas e grandes disfunções na região que causam a maior parte das instabilidades segmentares. São elas as técnicas de terapia manual Mulligan, Maitland e a Osteopatia, entre outras.

 

Para a prevenção e tratamento destas dores pélvicas também é necessário realizar alguns exercícios específicos utilizando o assoalho pélvico (períneo), principal ativador dos músculos locais estabilizadores profundos. São exercícios simples, mas não necessariamente fáceis de realizar. 

Há duas  estratégias de reabilitação de estabilização muscular:

- a abordagem de exercício de controle motor, enfatizando exercícios de treinamentos específicos para os músculos locais, e

- a abordagem de exercício geral, que inclui exercícios para os músculos globais.

 

É muito importante que a gestante faça um acompanhamento com um fisioterapeuta especializado em técnicas de terapia manual e de estabilização segmentar.

Para as cesáreas, partos normais e partos naturais humanizados, prevenir e tratar a dor na região da pelve é ter uma gestação de nove meses com saúde e com muito prazer. Mamãe com saúde é bebê saudável! Para os partos via vaginal é poder parir com prazer, diminuindo dores e desconfortos no trabalho de parto ativo e expulsivo; é aumentar a potencialidade do parto através de um períneo saudável, forte e eficaz; e é ter um pós-parto com excelente recuperação. Para cesáreas é necessário um cuidado especial para o pós-parto junto a uma pós-cirurgia abdominal baixa, no qual os músculos estabilizadores estarão extremamente prejudicados com a incisão cirúrgica em todas as camadas teciduais da região.

 

Existem testes específicos que são utilizados para avaliar a função da musculatura estabilizadora do quadril e lombar (mais conhecido como músculos do CORE). Como tal, um programa de reabilitação deve desenvolver a estabilidade através da realização de exercícios que desafiam os músculos locais e globais em uma variedade de posições, promovendo resistência e força muscular.

 

Marque uma avaliação e conheça como está o seu períneo e a função dos seus músculos estabilizadores na gestação e/ou pós-parto. O períneo é a chave da estabilização do corpo e ele, na gestação, fica completamente sobrecarregado. Cuide-se!

  

REFERÊNCIAS

C. A. Richardson and G. A. Jull. Muscle control - pain control. What exercises would you prescribe? Manual Therapy (1995) 1, 2-10. 

Jason Brumitt, J. W. Matheson, and Erik P. Meira. Core Stabilization Exercise Prescription, Part I: Current Concepts in Assessment and Intervention. Sports Health: A Multidisciplinary Approach 2013

Hides, J., Wilson, S., Stanton, W., McMahon, S., Keto, H., McMahon, K., Bryant, M., & Richardson, C. (2006). An MRI investigation into the function of the transversus abdominis muscle during "drawing-in" of the abdominal wall. Spine (Phila Pa 1976), 31(6), E175-8.

Hodges, P. W., & Richardson, C. A. (1997). Contraction of the abdominal muscles associated with movement of the lower limb. Phys Ther, 77(2), 132-42. 

Dharmarajan Rajalakshmi & N Sundaramurthy Senthil Kumar. Strengthening Transversus Abdominis in Pregnancy Related Pelvic Pain: The Pressure Biofeedback Stabilization Training. Global Journal of Health Science; Vol. 4, No. 4; 2012

 

 

Fisioterapeuta Dra. Lilian Sarli

Mestra pela Unicamp / Ortopedia e Medicina Esportiva
Crefito: 123955 - F
 
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Paulínia - (19) 3874-2134 / (19) 99267-3331  

 

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